Para entender melhor o que é a AIDS, devemos antes entender o que é o Human Immunodeficiency Virus (HIV), sigla em inglês para o vírus da imunodeficiência humana, que ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças.
O HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns: período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune.
As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+ (também conhecidos por glóbulos brancos, são um grupo de células diferenciadas a partir de células-tronco pluripotenciais oriundas da medula óssea e presentes no sangue, linfa, órgãos linfoides e vários tecidos conjuntivos), é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo, multiplicando-se e rompendo os linfócitos, em busca de outros para continuar a infecção. Com isso, o sistema de defesa vai pouco a pouco perdendo a capacidade de responder adequadamente, tornando o corpo mais vulnerável a doenças.
A transmissão do HIV ocorre por meio do sangue, sêmen (também o líquido seminal que escorre no início da ereção), secreções vaginais e leite, da mãe para o recém-nascido ao amamentar, por isso recomenda-se a não amamentação quando a mãe tem o HIV.
Um indivíduo ter o HIV (soropositivo) não é a mesma coisa que ter a AIDS, pois existem muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas ou sem desenvolver a doença. Contudo, podem transmitir o vírus a outros através de relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou da mãe para filho durante a gestação e amamentação.
O HIV/ AIDS ainda não tem cura e nenhuma vacina de prevenção ou contra ela, apenas tratamento de controle.
O que é a AIDS?
A Acquired Immune Deficiency Syndrome (AIDS) é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico, conhecida também por “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”, causada pelo HIV. Como este vírus ataca as células de defesa do corpo humano, o organismo fica mais vulnerável, seja para um simples resfriado até infecções mais graves, como tuberculose ou câncer, dificultando o tratamento dessas doenças.
Quando o organismo não possui mais forças para combater esses agentes externos, o indivíduo começa a ficar doente mais facilmente e então se diz que tem AIDS.
O que provoca a morte não é a AIDS, mas as doenças infecciosas ou os tumores que atingem o organismo do indivíduo infectado.
Quais são os sintomas da AIDS?
O organismo leva de 30 a 60 dias após a infecção para produzir anticorpos anti-HIV. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal estar, devido a isso, a maioria dos casos passa despercebido. Entre os principais sintomas estão: diarreia prolongada sem causa aparente, emagrecimento, fraqueza, febre alta.
Após o contágio pelo vírus HIV, os sintomas da AIDS podem demorar até 10 anos para se manifestar, por esta razão, a pessoa pode ter o vírus, mas não a AIDS ainda em seu corpo.
Quais as fases da doença?
Quando ocorre a infecção pelo vírus o sistema imunológico começa a ser atacado, a partir de então ocorrem as seguintes fases:
- Primeira fase (aguda): ocorre a incubação do HIV, tempo da exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença. Este período varia de 3 a 6 semanas.
- Segunda fase (assintomático): marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus, é suficiente para permitir novas doenças mas o organismo não chega a enfraquecer, pois, os vírus amadurecem e morrem de forma equilibrada. Este período pode durar muitos anos.
- Terceira fase (sintomática inicial): devido ao frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns. Esta fase caracteriza-se pela alta redução dos linfócitos T CD4 (glóbulos brancos), que chegam a ficar abaixo de 200 unidades por mm³ de sangue. Em adultos saudáveis, este valor varia entre 800 a 1.200 unidades.
O acompanhamento médico da infecção pelo HIV é majoritário, tanto para quem não apresenta sintomas e é assintomático, quanto para quem já demonstra algum traço da doença.
Como fazer o diagnóstico?
A seguir, os principais testes para diagnosticar o HIV/ AIDS:
Teste Elisa:
É o teste de laboratório mais realizado para este diagnóstico, são investigados anticorpos contra o HIV no sangue do paciente. Se uma amostra não apresentar nenhum anticorpo, o resultado negativo é fornecido para o paciente.
Se for detectado algum anticorpo anti-HIV no sangue, é necessária a realização de outro teste adicional, o teste confirmatório. Como testes confirmatórios, são usados o Western Blot, o Teste de Imunofluorescência indireta para o HIV-1 e o imunoblot.
São necessários os testes de confirmação porque, em alguns casos, os exames podem dar resultados falsos positivos em consequência de algumas doenças, como artrite reumatoide, doença autoimune e alguns tipos de câncer.
O teste de confirmação é feito com a mesma amostra e o resultado definitivo é fornecido ao paciente. Se o resultado for positivo, o paciente será informado e chamado para mais um teste com amostra diferente. Sendo o resultado positivo ou negativo, encaminha-se o paciente para o “aconselhamento pós-teste”, uma conversa com o profissional do CTA ou do posto de saúde que orientará sobre prevenção, tratamento e outros cuidados com a saúde.
Teste Western Blot:
Seu custo é elevado, o Western Blot é confirmatório, ou seja, indicado em casos de resultado positivo no teste Elisa. Nele, os médicos procurarão fragmentos do HIV.
Teste de imunofluorescência indireta para o HIV-1:
Outro tipo de teste confirmatório, ele permite detectar os anticorpos anti-HIV.
Teste rápido:
Permite a detecção de anticorpos anti-HIV na amostra de sangue do paciente em até 30 minutos, e pode ser realizado no momento da consulta.
O teste rápido permite que o paciente, no mesmo momento em que faz o teste, tenha conhecimento do resultado e receba o pré e pós-aconselhamento. Este teste é, preferencialmente, adotado em populações que moram em locais de difícil acesso, em gestantes que não fizeram o acompanhamento pré-natal e em situações de acidentes no trabalho.
O que é a janela imunológica?
Entende-se como o intervalo de tempo entre a infecção pelo vírus da AIDS (HIV) e a produção de anticorpos anti-HIV no sangue. Esses anticorpos são produzidos pelo sistema de defesa do organismo em resposta ao vírus e os exames detectarão a presença dos anticorpos, que confirmará a infecção.
O período de identificação do contágio pelo vírus depende do tipo de exame (quanto à sensibilidade e especificidade) e da reação do organismo do indivíduo. Na maioria dos casos, a sorologia positiva é constatada de 30 a 60 dias após a exposição ao HIV.
Mas, há casos em que o tempo pode ser maior, o teste realizado 120 dias após a relação de risco serve apenas para detectar os casos raros de soroconversão – quando há mudança no resultado.
Se um teste de HIV for feito durante o período da janela imunológica, existe a possibilidade de apresentar um falso resultado negativo. Com isso, recomenda-se aguardar mais 30 dias e refazer o teste.
Qual profissional devo procurar?
O médico infectologista é o responsável por diagnosticar e tratar o HIV/AIDS. A Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde, é a responsável pelos testes de diagnóstico da infecção por HIV e são realizados gratuitamente nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).
Qual é o tratamento para o HIV/AIDS?
Todos devem receber o tratamento chamado de terapia antirretroviral (TARV).
O paciente sempre será avaliado quanto a sua evolução clínica nas consultas regulares. Seguir a risca o tratamento com os remédios é fundamental neste processo.
O uso irregular e/ou errado dos antirretrovirais faz acelerar o processo de resistência do vírus aos medicamentos, por isso, toda e qualquer decisão sobre interrupção ou troca de medicamentos deve ser tomada com o consentimento do médico que faz o acompanhamento do indivíduo soropositivo.
A frequência dos exames e das consultas é determinada pelo médico e é essencial para controlar o avanço do HIV no organismo, determinando qual o tratamento mais adequado de acordo com cada caso.
HIV/ AIDS tem cura?
Ainda não foi descoberta nenhuma cura para esta doença. Ela tem tratamento para que o paciente tenha uma qualidade de vida melhor, os chamados “antirretrovirais”, estes surgiram na década de 1980, para impedir a multiplicação do vírus HIV no organismo.
Eles não matam o vírus, mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico do paciente. Por isso, seu uso é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida.
No Brasil, a terapia antirretroviral é distribuída gratuitamente desde 1996 para todos que necessitam do tratamento. A evolução nos estudos, permitiu o surgimento de várias opções que incluem tratamentos de até um comprimido por dia com ótima resposta terapêutica.
No entanto, o tratamento precisa de acompanhamento médico para avaliar qual o melhor esquema indicado para cada indivíduo, as adaptações do organismo ao tratamento, seus efeitos colaterais e as possíveis dificuldades em seguir corretamente as recomendações médicas.
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas nesse site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Como prevenir? É transmissível?
Para evitar a transmissão da AIDS, o método mais recomendado é o uso de preservativos durante a relação sexual, bem como o uso de seringas e agulhas descartáveis. Outras medidas consistem em testar previamente o sangue a ser transfundido e usar luvas quando for manipular feridas ou líquidos potencialmente contaminados.
Confira abaixo quatro medidas para se prevenir do vírus HIV:
- Usar preservativo, masculino ou feminino em todo contato sexual.
- Não compartilhar seringas.
- Evitar o contato com sangue ou secreções de um indivíduo contaminado.
- Identificar e tratar qualquer doença sexualmente transmissível, pois elas aumentam o risco de contaminação com o vírus HIV.
Grupo de risco
Essa distinção de grupo de risco não existe mais. No começo da epidemia, pelo fato da AIDS atingir, principalmente, os homens homossexuais, os usuários de drogas injetáveis e os hemofílicos, eram então considerados dentro do grupo de risco.
Hoje em dia, fala-se em comportamento de risco e não mais em grupo de risco, pois o vírus passou a se espalhar de forma geral, não mais se concentrando somente nesses grupos específicos.
Exemplo disso é que o número de heterossexuais contaminados por HIV tem aumentado proporcionalmente com a epidemia nos últimos anos, principalmente entre mulheres, que antes não eram citadas nos grupos de risco.
Importante!
Beijar ou encostar um paciente com AIDS não significa que a pessoa saudável pegará o vírus. Isso só ocorre se houver sangramento em ambas as bocas ou ferimentos com ferimentos.
O HIV pode ser transmitido pelo sangue, esperma e secreção vaginal, pelo leite materno, ou transfusão de sangue contaminado. O portador do HIV, mesmo sem apresentar os sintomas da AIDS, pode transmitir o vírus, por isso, a importância do uso de preservativo em todas as relações sexuais.
Com isso, podemos conviver com uma pessoa portadora do HIV ou da AIDS. Podemos beijar, abraçar, dar carinho e compartilhar do mesmo espaço físico sem ter medo de pegar o vírus da AIDS.
Quanto mais respeito e carinho dermos a quem vive com HIV ou a AIDS será de grande auxílio para o tratamento, afinal, o convívio social é muito importante para o aumento da autoestima das pessoas e, consequentemente, faz com que elas cuidem melhor da sua saúde.
Se há dúvidas, a pessoa deve fazer o teste para a AIDS, pois quanto mais cedo se diagnostica e inicia o tratamento, maior é a expectativa de vida do paciente. As mães soropositivas têm 99% de chances de terem o filho sem HIV positivo se seguirem à risca o tratamento recomendado durante a gestação.
Deixe sua dúvida nos comentários!
[avatar user=”ligia” size=”thumbnail” /]
Dra. Ligia Castellon Figueiredo Gryninger
Médica Infectologista
CRM/SC: 19025
RQE: 10651
Comments are closed.